Publicada originalmente por Susana Abreu em 18 outubro de 2011, revisitamos esta partilha hoje, de forma a eternizar este sentimento que une todos os que partilham um pouco do elemento ar como algo magnético nas suas vidas.
Sentem que algo os compele a voar, mesmo sem perceberem bem porquê.
A Susana é verdadeiramente, um espírito Livre.
Voou connosco e após o voo fez a descrição mais profunda e sentida, que alguma vez li..
"Hoje, dia dezoito de Outubro de 2011, dias antes de entrar nos 46 anos reencontrei outro dos meus “elementos” que por mim aguardava tranquilamente, e, porque me sentia preparada fiz Parapente!
Contrariamente à maioria das crianças que sonham voar, este sonho não era minha prioridade de infância, até porque sempre senti vertigens e pavor das alturas.
Porém, desde menina sempre senti necessidade de “voar”, mas, esta minha necessidade de “voo” sempre foi mais interna e ligada à minha necessidade de expansão do Eu!
De certa forma, todas as coisas estão intimamente ligadas, e porque todo o percurso que tenho vindo a fazer é no sentido de alcançar um contacto o mais aproximado com a liberdade, percebi, hoje, claramente que estava preparada para fazer este voo físico, então, decidi voar e VOEI…
Assim que “mergulhei”… a leveza… e a confirmação de que esta era é outra forma possível da minha “reencarnação”, no sentido de reencontro com outra forma da minha essência e voar, afinal, aquela sensação tão familiar!
Não houve alteração cardíaca, contrariamente ao que me haviam dito que se iria verificar - pelas diferenças naturais de ambientes (a transição do terrestre para o aéreo).
O meu coração continuou com os seus batimentos regulares e harmónicos.
Apareceu sim, a minha verdadeira contemplação a este “espaço” que me abraçou e que eu abracei à primeira fracção de segundo!
Sentir o vento macio a emprestar-me o seu beijo e sentir a sua envolvência em todo o meu corpo.
Reconfirmar que ele não é meu…nem teu…nem de ninguém em particular e ao mesmo tempo um pouco de todos aqueles que se permitem senti-lo sem o apropriar!
E que abraço, que beijo total!
Erguer a cabeça ligeiramente e observar lá no alto, ainda mais alto do que eu, as mantas - magnificas aves de rapina, pairar serenas ao sabor da força do vento. Sossegadas no seu voo, enquanto eu prosseguia o meu próprio voo em sossego.
Perceber o meu corpo quase roçar levemente a montanha - este monumento inigualável que a natureza presenteia aos nossos sentidos e integrar de tão próximo o seu poder e encantamento em mim.
Seguir com o meu olhar saltitante o nascimento de tantas formas de vida: cada plantinha, cada arbusto único e multicolor a salpicar aqui e acolá a rocha originalmente árida, agora preenchida com as mais variadas formas de florzinhas silvestres o que lhe confere um tom ainda mais rebelde e irregular.
Esta sim, uma sedução, de menina infinita realizada neste encontro imediato entre mim e a natureza selvagem!
Subitamente um bando de pássaros apareceu por debaixo do meu corpo suspenso e leve como uma folha ao sabor do vento e segui-os calmamente com a linha do meu olhar na sua dança rimada que parecia propositada para encantar.
Neste espaço, todos se respeitam. Ninguém interfere no ritmo de ninguém e cada qual prossegue o seu trajecto autonomamente.
Todos os elementos apesar de fazerem parte de um todo aceitam o ritmo de cada qual sem ofuscar ocupando educadamente cada um o seu lugar.
Assim deveria ser na vida.
Assim deveria ser com todas as formas de vida e com todas as espécies.
O respeito pelo ecossistema.
O respeito pelo humano através do humano que habita em cada um de nós!
Fechei os olhos… inspirei lentamente e percebi que mesmo com os olhos cerrados as mesmas coisas e as mesmas emoções continuava a ver e a sentir!
Todos os sons que continuava a escutar não eram senão palavras que a natureza oferecia sem nada exigir:
O som da cascata a embalar suavemente o meu coração.
O canto mágico dos pássaros.
O assobio irresistível do vento.
O mar por debaixo do meu corpo envolto no seu imenso manto azul-irreal.
O espasmo do rebentar das ondas na praia.
Tudo ao meu redor a fazer parte integrante de mim.
Que orgasmo indescritivelmente completo!
Com os braços abertos pude sentir uma maior leveza e na descida quando assumi a posição vertical tive uma perspectiva muito mais autêntica do verdadeiro sentido do voo livre dos pássaros!
Hoje fui pássaro.
Fui montanha.
Fui vento e nuvem e molécula e partícula de água…
e tudo fez naturalmente parte de mim como se desde sempre me habitasse e de certa forma continua a habitar!
Existe musicalidade maior do que a harmonia cósmica de toda a matéria existente?"
Susana Abreu
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